Edição #47
Antes de começar, faço novo destaque ao meu novo projecto. Para quem ainda não subscreveu, é só carregar na imagem para o fazer!
Latitude 47.4979 - Budapeste
Amanhã, húngaros e húngaras vão às urnas para eleger nova composição da Assembleia Nacional, no Országház, o ostentoso palácio à beira do Danúbio, em Budapeste. Isto importa por várias razões, sobretudo porque a Hungria é um estado autocrático dentro da União Europeia.
Conjuntamente com a Polónia, os países têm boicotado várias sanções do Parlamento Europeu face a cada um dos estados, uma vez que os estatutos exigem unanimidade na condenação de um Estado, logo, se um outro se opor, nada feito.
Orbán vai a eleições com o intuito de se manter no poder por mais quatro anos (a não ser que entretanto consiga mudar o limite de mandatos, estratégia tão recorrente dos autocratas). Contudo, nem isso tem sido necessário, uma vez que é líder do país desde 2010.
Mas se não está familiarizado com a personagem, nada tema. À boleia do sempre eloquente Foreign Policy, temos uma parágrafo cujas parcas linhas nunca disseram tanto:
Viktor Orban has always been a political shapeshifter. From his early days as an anti-communist activist to his current incarnation as a global illiberal icon, the 58-year-old has shed more than one skin. But, caught off guard by Russia’s invasion of Ukraine in late February, Orban is now being forced into extraordinary contortions ahead of pivotal elections next month.
Esta não é a primeira vez que viajo até Budapeste na Latitude Ocasional, o que conta mais cadastro do que cartão de visita. No passado junho, Orbán, através do seu partido, Fidesz, fez aprovar uma lei que proíbe a divulgação de conteúdos LGBTQI+ a menores de 18 anos.
Hungria proíbe divulgação de conteúdos sobre LGBT junto de menores de idade
O Parlamento húngaro aprovou esta terça-feira um pacote legislativo que proíbe a divulgação de conteúdo a menores de 18 anos que “mostre ou promova a sexualidade, a mudança de sexo ou a homossexualidade”. A medida foi vista como mais um ataque do Governo ultraconservador aos direitos LGBT, que tem adoptado posições cada vez mais radicais a este respeito.
Na altura escrevi que, praticamente, “o que a lei faz é impedir alguém com 17 anos de ver Sex Education. O país onde isto acontece faz parte da União Europeia.
Como sabemos, o retrocesso húngaro já começou há mais tempo:
Hungria aprova lei que impede adopção por casais do mesmo sexo
Só casais casados é que podem adoptar crianças. Para solteiros é necessária autorização governamental. É um “dia horrível” para a comunidade LGBT, diz a Amnistia Internacional
E não deixa de impressionar o tempo que demorou aos supostos democratas romper com o autocrata húngaro; foram precisas resmas de legislação autoritária para se começar a falar da expulsão do partido de Orban (Fidesz) do PPE e, mesmo assim, lá estiveram PSD e CDS para nos fazer corar de vergonha.
Contudo, há quem esteja, apesar da resistência, a tentar fazer de Portugal um país melhor. É o caso de Joacine Katar Moreira.”
After Russia’s invasion, the prime minister pivoted to a strategy of emphasizing that Hungary should stay out of the war. Orbán and his allies have repeatedly said that the opposition wants to send troops to Ukraine — a claim that is not factually correct.
Unlike many other EU countries, Budapest has declined to provide Kyiv with bilateral military assistance. And despite Hungary’s support for punitive measures targeting Russia, a government minister this week blamed a historic fall in the Hungarian currency on “Brussels sanctions.”
A desordem que é a guerra também para a opinião pública
Outras histórias
Se uma ministra incomoda muita gente
As mulheres foram tão excluídas da política que os lugares de poder se nomeavam apenas no masculino. Foi assim que Maria de Lourdes Pintassilgo foi sucessivamente secretário de Estado da Segurança Social, ministro dos Assuntos Sociais e mais tarde primeiro-ministro, já em 1979.
As coisas mudaram graças à lutadora Leonor Beleza que, convidada para o Governo em 1982, teve de pedir ao primeiro-ministro e ao Presidente para ser tratada como secretária, e não secretário, de Estado. Quando chegou a ministra, três anos depois, a luta repetiu-se, mais difícil, como explica Beleza: “Como ministra era mais complicado, causava engulhos. Como secretária de Estado não fazia impressão, pois era secretária”.