Edição #51
Latitude 3̶8̶.̶7̶2̶2̶2̶ Portugal
Esta é a penúltima edição de Latitude Ocasional (pelo menos em formato semanal). Tendo eu já tema para a última edição, aproveito, uma vez mais, para destacar o meu novo projecto - 12 Pessoas em Fúria - mas de forma mais extensa. Quem assinou a newsletter já terá recebido a primeira edição.
Sendo a diferença de subscritores entre as duas substancial, aproveito para colocar aqui parte do conteúdo que partilhei na primeira edição:
Antes de mais, obrigado, querido leitor ou querida leitora, por ter cliclado no botão subscrever! É mais uma prova de confiança; mas não se iluda: temos muito trabalho a fazer e ainda só estamos no primeiro patamar de dificuldade. Sim, isto não vai ser fácil. E se estava à espera de passividade, essa terá de ser encontrada noutro lado, porque da escrita partimos para a acção. Estou novamente a repetir-me, não é? Tem de ser.
Caso seja novo leitor ou nova leitora, ou apenas para avivar a memória, compus um brevíssimo Manual de Instruções da newsletter 12 Pessoas em Fúria (cujo título apresento em maiúsculas em homenagem à forma como a extrema-direita gosta de debater):
Ler
Compreender
Agir
Seria ingénuo eu achar que alguma transformação viria de uma newsletter – vem dos leitores. Eu sei que escrevo para pessoas interessadas em sinalizar ou perceber o quão intolerante é a agenda do Chega, mas isso é pregar aos convertidos. O que se espera de si, querido leitor ou querida leitora, é que retenha o que lhe aprouver destes escritos e os comunique como protesto; isto é, contra os atentados às liberdades, direitos e garantias que vão sendo tentadas por qualquer um dos deputados da extrema-direita.
O meu objectivo não é, com esta newsletter que agora começa e que se prevê que dure 48 meses, apontar tudo o que de mal fizeram estes inaptos representantes de parte da população; é, antes, dar ferramentas a leitores e leitoras para que consigam desconstruir o argumentário de quem os defende; para que depois seja mais fácil deslegitimar o sentido de voto. E começamos já com o primeiro ponto: independentemente da razão, votar no Chega é motivo de vergonha – não há volta a dar (e eles bem querem ficar-nos com a palavra).
Muito poucas pessoas querem, realmente, a agenda do Chega. Do eleitorado, arriscaria dizer ninguém, mesmo. Porém, como muitas pessoas estão fartas “do sistema”, é fácil agarrarem-se a qualquer coisa. Antes de prosseguir, importa abrir um parêntesis para explicar que a recusa da agenda do Chega não significa que a extrema-direita esteja sempre errada – se assim fosse não precisaríamos de alertar os outros.
A questão divide-se em subversão e invenção: primeiro, de usar problemas complexos e dar-lhes soluções fáceis – o populismo; depois, a inventar realidades e problemáticas, roubadas de outras latitudes, para justificar políticas intolerantes.
Conceptualmente, este é o mais ou menos o método da extrema-direita. O mais curioso é que nem tem mudado assim tanto ao longo dos anos. Claro que as redes sociais são um factor a ter em conta, mas se antes dizíamos que era importante considerar as fontes de jornais, hoje dizemo-lo sobre as partilhas no Facebook. A maior complexidade, maior dedicação. É preciso muita paciência porque desconstruir o apelo ao pathos é muito difícil. Das melhores estratégias que vi e testemunhei foi a colocação no lugar da pessoa. Passo a explicar:
[…]
Sim, acabei em clickbait! Para saber qual é a técnica a que me estou a referir, subscreva:
Outras Histórias
A persistente vulnerabilidade da democracia liberal
Muito antes do início da pandemia de Covid-19, políticos e intelectuais antiliberais haviam lançado uma lista de acusações contra o liberalismo. Populistas acusaram o liberalismo de ter se tornado uma desculpa para que elitistas antidemocráticos tomassem o poder dos cidadãos comuns ao mesmo tempo em que iam contra seus interesses econômicos. Nacionalistas alegavam que o liberalismo construiu leis e instituições internacionais que violavam a soberania das nações e as impediam de perseguir interesses nacionais legítimos. Tradicionalistas alegavam que o individualismo liberal corroía comunidades morais e religiosas e que a liberdade liberal eliminara a distinção entre liberdade e permissão. Se tudo for questão de escolha, argumentavam eles, então tudo é permitido, e o niilismo é inevitável.
Apesar de sua atualidade na política de hoje, essas acusações não são novas e, de um modo geral, nem verdadeiras. Mas forças mais profundas estão em curso.
Netflix’s Bad Habits Have Caught Up With It
Twenty minutes after Netflix announced the shocking news Tuesday that for the first time in a decade, it actually lost subscribers during a fiscal quarter, an executive at a rival streamer texted me a very simple reaction: “🤣🤣🤣,” he wrote. Schadenfreude via emoji may sting, but it’s the least of Netflix’s problems right now: Its stock price collapsed by more than 35 percent Wednesday, erasing more than $50 billion in value in a single day. (It has since dropped another 4 percent today.) The news was so grim, even longtime Netflix bulls had no choice but to concede the tech company that ate Hollywood now finds itself grappling with the reality that its decade of unchecked growth has come crashing to a halt. As streaming evangelist Rich Greenfield of Lightshed put it in a report for clients, “Netflix felt vulnerable yesterday in a way that it never has before.”
The Marriage Lesson That I Learned Too Late
Sometimes I leave used drinking glasses by the kitchen sink, just inches away from the dishwasher. It isn’t a big deal to me now. It wasn’t a big deal to me when I was married. But it was a big deal to her. Each time my wife entered the kitchen to discover the glass I’d left next to the sink, she moved incrementally closer to moving out and ending our marriage. I just didn’t know it yet.
You may be wondering, Hey, Matt! Why would you leave a glass by the sink instead of putting it in the dishwasher?
A couple of reasons:
1. I might want to use it again.
2. I, personally, don’t care if a glass is sitting by the sink unless guests are visiting. I will never care. Ever. It’s impossible. It’s like asking me to make myself interested in crocheting or to enjoy yard work.There is only one reason I will ever stop leaving that glass by the sink, and it’s a lesson I learned much too late: because I love and respect my partner, and it really matters to them.
As recomendações que vos deixo
Sendo esta a penúltima edição de Latitude Ocasional , aproveito para recomendar outras newsletters:
Popular Information, com esta boa edição sobre Elon Musk, a propósito da compra do Twitter e de ser um ser humano pouco recomendável, também.
The Why Axis. Partilho e sublinho esta interessante edição sobre o novo manda-chuva do NYT.
Slow Boring, com destaque para esta longa incursão sobre a origem das nações.
I Might Be Wrong, um olhar cómico e relativista sobre o mundo, de um antigo guionista de Last Week Tonight, com John Oliver.
Recomendo ainda, quando fizer muito sol, caminhar pela sombra. Isso e votar à esquerda, sempre.
Para fechar
Uma boa notícia: O autoritário Janez Jansa, também conhecido por Marechal Tuíto, saiu derrotado das eleições eslovenas, que aconteceram no passado domingo.
A história fica ainda mais interessante quando o vencedor das eleições, com maioria relativa, é um homem com pouquíssima representação pública/mediática naquele país. Trata-se de Robert Golob, empresário ligado à sustentabilidade e economia social, que é, assim, primeiro-ministro passados apenas três meses da constituição do partido Movimento da Liberdade.
Political newcomer liberal Robert Golob has defeated Slovenia’s three-time prime minister, populist conservative Janez Janša, in elections in a country split by bitter political divisions over the rule of law.
Golob’s Freedom Movement (GS), which he launched only in January, has built on anger with Janša’s regime in the former Yugoslav state.