Homens | Brancos | Cis | Hetero
Um ensaio que escrevi sobre mudar e porque é que custa tanto fazê-lo
O título desta edição surpresa da Latitude Ocasional (#saudade) poderá muito bem ser a descrição do que é a fonte de grande parte dos problemas que hoje enfrentamos enquanto sociedade - ou seja, enquanto eixo espácio-temporal para todes.
Como pessoa integrante (e dinamizadora, tentando sê-lo cada vez menos) do grupo, sinto que tem de partir dos homens brancos heteronormativos o debate sobre o que raio andamos a fazer.
Apesar de longo, convido todos, todas e todes a ler, opiniar, criticar, partilhar. Sobretudo, convido os homens brancos como eu a interpretar e reflectir. De resto, o texto começa assim mesmo.
Este texto é o início de uma vontade de diálogo sobre o que significa ser e sentir-se homem, e quais as consequências do nosso comportamento, tanto para nós como para as restantes pessoas. Procura, também, ser um ensaio aberto, consciente, responsável, sem pudor, sem constrangimentos ideológicos e sem posicionamento defensivo — apenas interessa construir. Dialogar a partir da realidade.
Não se trata de uma generalização ou acusação, mas sim de um convite à cooperação e partilha. Só colaborando com outros homens que reconhecem como problema a forma como somos educados, como educamos e como nos relacionamos é que podemos pensar em mudar — e mudar é tão difícil quanto urgente.
Antes de que o leitor pense num refúgio do género #NotAllMen ou “então e as mulheres?”, deixemos de parte o miserabilismo arrancado a ferros à raridade dos casos e foquemo-nos no todo. É ou não verdade que nós, homens, somos ensinados e incentivados a ser comedidos na demonstração de afetos, a não falar de sentimentos e a competir inapelavelmente uns com os outros, apontando para um triunfo do ego à custa de todos e sem a ajuda de ninguém?